2020 - ANO DO PATRIMÔNIO CULTURAL - Correio da Lavoura

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8 de jul. de 2020

2020 - ANO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

POR LEANDRO MIRANDA


Dom Pedro II volta à Vila de Iguassú 170 anos depois se senta na pedra do antigo pelourinho e chora diante das ruínas da Câmara, do Fórum e da Cadeia

“... Nós nem cremos que escravos outrora 
Tenha havido em tão nobre País, 
Hoje o rubro lampejo da aurora 
Acha irmãos, não tiranos hostis...” 
(Trecho do Hino da Proclamação da República)

No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea abolindo a escravidão. O Imperador Dom Pedro II se encontrava na Europa, em Milão, doente e debilitado, e quando soube da notícia da libertação dos negros brasileiros, uma semana depois do ocorrido, deitado em sua cama ele chorou e disse a respeito do Brasil: “Grande povo, grande povo”!

Quando Gilberto Freyre lançou o icônico livro “Casa Grande e Senzala”, Adolf Hiltler insistia na intenção de instituir o Nazismo, que propagava a “Raça pura Ariana” em contraponto as outras raças, as condenando aos campos de concentração para morrer em câmaras de gás, lhes dizendo que iam tomar banho (até parece coisa dos índios brasileiros quando queriam xingar os europeus). Na Itália Mussoline, a grande inspiração de Adolf Hitler, instituía o Fascismo mandando matar e torturar os seus oponentes e inimigos políticos, em prol de seu próprio umbigo e ambição megalomaníaca. Na Rússia, então antiga União Soviética, Lennin instituía o Comunismo na base da eliminação de todo e qualquer oponente a seus doentios pensamentos narcisistas, de auto adoração e promoveu a morte de milhares de pessoas de maneira discriminatória, também se utilizando de mão de obra escrava para trabalhar nos campos de concentração Russos. Regimes esses, que após a segunda guerra mundial, viu-se não se sustentarem e seus “líderes” foram condenados por crimes contra a humanidade. 

Porém, em meio a esses regimes autoritários, extremamente injustos, discriminatórios em prol de uma única visão e pensamento e, que se escondiam em meio a “cortinas de ferro”, Gilberto Freyre ganhava reconhecimento e premiações internacionais por “denunciar e propagar” os abusos cometidos pelos escravocratas “senhores de engenho” contra os negros no Brasil, suas situações de injustiças, humilhações e pobrezas a que eram sujeitos - com direito a ficar calado e engolir suas revoltas na base da tortura corporal e psicológica - durante o período colonial e imperial brasileiro. Cujo período de injustiças e escravidão, condenou nosso país a ter uma grande população de brasileiros vivendo em extrema pobreza, miséria e com direitos mínimos (para não reclamarem tanto, ou ficarem quietos), enquanto ainda parecemos viver entre os “senhores de engenho” e os “escravos”; entre a “casa grande” e as “senzalas”. 

Quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, o Imperador Dom Pedro II, considerado um dos homens mais inteligentes e respeitados no mundo na segunda metade do século XIX, já em idade avançada, sabia que tal atitude era a pá de cal da monarquia no Brasil. Afinal de contas, se os grandes cafeicultores, senhores de engenho, grandes latifundiários, mineradores - os “senhores feudais do Brasil” que sustentavam a “monarquia escravocrata” que lhes era conveniente – teriam que pagar direitos trabalhistas a quem nunca tiveram nem que dar satisfação, não mais se utilizar de mão de obra gratuita para sustentar suas “casas grandes” e fortunas; se teriam que passar a pagar direitos trabalhistas, então porque Monarquia, se poderiam instituir um novo sistema, a República? Já que tudo iria mudar mesmo. Ou será que usaram a Princesa Isabel para libertar os escravos, para em seguida expulsar a Família Imperial do Brasil e depois cantar o Hino da Proclamação da República citado acima? 

Se o sistema trabalhista tivesse que mudar com a Família Imperial no poder, tudo continuaria a ser comandado pelo Imperador e seus descendentes diretos, e não pelos que visavam “mandar” no Brasil. Afinal de contas a monarquia dependia de quem a financiava e, num país que vivia da agricultura e de trabalhadores na base da mão de obra escrava, logo, era a aristocracia rural quem sustentava o estado. Então, a escravidão era um mal necessário ao sistema monárquico, que a via como algo temporal - uma “vergonha nacional”, segundo o Imperador, que tinha que se apresentar diante do mundo com essa mancha negra, literalmente, diante dele – e era um ótimo negócio para os “senhores feudais tupiniquins”. E, assim, os “donos das casas grandes” expulsaram a Família Imperial do país, já, de início, cometendo uma das maiores injustiças do poder político do Brasil, para com isso, continuar a escravizar o povo “recém liberto”, com direitos trabalhistas exploratórios para inglês ver. Não é preciso forçar muito a mente para lembrar das grandes manifestações e greves no ABC Paulista, que se espalharam pelo país na década de 80, ou seja, praticamente 100 anos depois da Proclamação da República, para que os trabalhadores conseguissem direitos trabalhistas mais justos e fundamentais a qualquer brasileiro. 

Parece que nada adiantou o livro “Casa Grande e Senzala”, do Sociólogo Gilberto Freyre, escrito em 1933 para nós brasileiros, mesmo depois da queda e banimento da humanidade dos regimes Nazista, Fascista e o insuportável Comunismo. Parece que em nosso país, começando pelos municípios, subindo para os estados e federação, ainda se quer viver na “casa grande” às custas de querer colocar os outros na “senzala”, sem direitos - ou com direitos mínimos para não dar o que falar - enquanto se erguem as “casas grandes”, às custas, até, da doença e morte da população pelos mais diversos motivos, que vão “das faltas de recursos” para os hospitais, à segurança e ao saneamento básico. Incrível, mas para a corrupção não faltam recursos, aliás, parece até que quando se vê a possibilidade de corrupção, é que os recursos aparecem. 

Não importa, o negócio da péssima “cultura” que está instalada no meio de nós, é se dar bem às custas dos outros, explorar o trabalho suado alheio, sugar o sangue dos inocentes para sustentar os “castelos dos vampiros”, a “casa grande dos senhores feudais” que ainda pensam que estão na idade média. Não entendem que foi por isso que a Rainha Maria Antonieta perdeu a cabeça na guilhotina, ao ver a revolta popular e dizer: “dá farinha para o povo que eles ficam satisfeitos!”. Cuja revolta levou à Revolução Francesa e inspirou a Inconfidência Mineira, por causa de 20% de impostos cobrados pela Coroa Portuguesa e o arrocho da população colonial brasileira, porque queriam saber de resolver somente os problemas deles. 

A escravidão no Brasil não deve ser lembrada somente como o sofrimento de pessoas negras, coitadas, chicoteadas, oprimidas e psicologicamente afetadas, não! Porque a principal razão da escravidão era sustentar grandes fortunas sem ter que pagar por isso, sem ter que pagar empregados, ou funcionários e direitos trabalhistas, ou seja, ganhar sem ter que pagar ou trabalhar para isso. Isso é que era o verdadeiro sentido da escravidão para os “senhores de engenho feudais” do Brasil. Como disse Charlie Chaplin no filme O Grande Ditador: “Libertam-se a si mesmos e escravizam o povo!” A escravidão é um crime constitucional, mas os donos de certas “casas grandes” ainda insistem em querer explorar o trabalho alheio e a mão de obra dos outros para sustentar seus “poderes” (caso contrário seria gestão), seus “castelos de vampiros”, provavelmente decorados com a falsa aparência emergente feitas de mdf’s, porcelanatos, sancas de gesso, iluminação com led’s e algum quadro comprado num shopping qualquer pendurado na parede, só para combinar com a cor do tapete, provavelmente puxado de alguém. 

Afinal de contas, qual o orgulho de termos um Patrimônio Histórico Mundial tombado pela Unesco como o Cais do Valongo, quando esse se refere a um porto que recebeu milhares de escravos no Brasil e levou tanta gente ao sofrimento que se reflete até os dias de hoje? Para manter o povo preso as suas dores e traumas passados, enquanto se esquecem das injustiças que continuam a sofrer? Ou para mostrar para o mundo que nós sentimos muito por causa da história da escravidão no país? Me parece coisa mascarada e hipócrita para inglês ver. Talvez fosse melhor tê-lo tombado, porque ele foi um porto construído especialmente para receber a Princesa Leopoldina da Áustria, que foi a principal articuladora e uma das principais protagonistas da Independência do Brasil. Não elegeram Tiradentes como o mártir da Independência do Brasil, muito mais quem de fato a proclamou. Se vivêssemos num país coerente, esse seria o real motivo do tombamento do Cais do Valongo e não a manutenção da cultura escravagista que parece querer imperar e mandar no país. Mas, se não for assim, quem vai sustentar as “casas grandes dos senhores de engenho feudais contemporâneos” que só querem saber de ganhar sem ter que pagar, ou trabalhar e suar a camisa? 

Até a religião afro, que servia no período colonial para libertar o negro escravo de suas amarras espirituais, materiais e lhes dar conforto às suas almas aflitas, parede que passou para as mãos das “casas grandes”. Que a usa para querer manter escravos - em meios a comandos mentais, dominações e absorção de energias - os que eles acham que devem viver nas “senzalas”, ou podem ser explorados e usados porque não passam de idiotas, afinal de contas os inteligentes só são eles. 

Parece que lhe dar com coisas que refletem a história, evidencia ainda mais a separação entre os que exploram dos que são explorados. Um certo filósofo, que não me recordo bem o nome e por isso o não citarei, após a segunda guerra mundial iniciada pelos regimes de Hitler, Mussoline e Lennin disse: “A loucura dos grandes precisa ser vigiada!” E é bem assim que as coisas devem ser vistas, embora tenha muito carro Corsa querendo ser Ferrari pagando para sair em manchetes de jornal, que vivem às custas das mídias “imidiáticas”, que são bombásticas e barulhentas, mas não dizem absolutamente nada e são vazias de tudo. O fato é que até em lhe dar com a história, essa gente não consegue nem enxergar que nela havia injustiças desumanas, articuladas para sustentar pessoas que deveriam aprender a limpar suas próprias latrinas. Onde delas se utilizavam os escravocratas para manter seus patamares, títulos, fidalguias e crachás, às custas do suor dos outros. Ou seja, “mexem na história” para mostrar exatamente quem eles seriam, ou são, pessoas que querem se dar bem às custas dos outros e se utilizam até da religião dos antigos e descriminados negros escravos, “mexendo nos pauzinhos”, para também usurpar os bens espirituais que se refletem no material e, dessa forma, manter os outros debaixo da cegueira e escravidão mental. 

Salve, salve a Princesa Isabel que assinou a Lei Áurea! 

Salve, salve Zumbi dos Palmares que não se deixou escravizar! 

Salve, salve o Dom Pedro II que chorou ao saber que a liberdade havia chegado a todos os brasileiros!