O Correio da Lavoura – o nome
lembra ideais de seu fundador, Silvino de Azeredo, cuja memória é sempre
reverenciada – completou um século de existência no 22 de março de 2017.
Incluído no rol da chamada Pequena Imprensa, que sempre lutou com grandes
dificuldades, está hoje entre os vinte jornais mais antigos do Brasil em
circulação ininterrupta. Mesmo lutando, com já foi dito anteriormente, com
dificuldades quase intransponíveis, o CL se impôs e se valorizou na defesa e
permanência dos ideais do seu fundador.
Silvino de Azeredo |
Frutos que,
através da notícia e da informação, de campanhas em favor do desenvolvimento
municipal, da valorização de grupos e entidades que enriqueceram e continuam a
enriquecer esta terra iguaçuana, cujos feitos continuam sendo veiculados
semanalmente pelo Correio da Lavoura.
Ao
aproximar-se a passagem de mais um aniversário, sem falsa modéstia, representa
um marco excepcional na imprensa iguaçuana e, por extensão, do próprio Estado
do Rio de Janeiro, não há como esquecer-se a figura do seu fundador que, ao
apresentar o seu jornal a 22 de março de 1917, afirmou com entusiasmo e
confiança no futuro promissor da terra em que nascera: “... é seu principal fim
concorrer, na medida de suas forças e cheio de boa vontade, para o progresso
intelectual, moral e material deste Município, de cujo alto interesse se
tornará valente defensor”.
Silvino de
Azeredo, para levar avante o órgão de imprensa que idealizou e fundou com o
propósito de lutar sem tréguas em defesa da produção (sobretudo agrícola, o que
se configura no próprio título do jornal), higiene e instrução, contou com a
colaboração de amigos fiéis e dedicados, que se afinavam com seus ideais
patrióticos, como Silvino Silveira, Alfredo Jardim, Dr. Marques Canário,
Serafim Barbosa, Dr. Dias Martins, Edmundo Galvão, Dr. Oscar da Pena
Fontenelle, Luiz Alves Cavalcanti, Humberto Caulino, Eugênio Rios, Pedro Pujol
e A. Secioso de Sá.
Para atestar o
grau de afinidade que unia Silvino de Azeredo a esses amigos da primeira hora
aqui citados, podemos repetir as palavras pronunciadas pelo companheiro Alfredo
Jardim quando da morte do fundador do CL, em setembro de 1939: “... as colunas
do Correio da Lavoura aí estão para
atestar aos pósteros como foi nobremente cumprida sua missão apostolar, na
propaganda e defesa de tudo quanto era digno, pugnando sempre pelo bem do povo
de Iguaçu e progresso da terra fluminense”.
Além da atual,
em continuidade renovada, ajustada aos novos tempos, três etapas anteriores
assinalam a longa existência do Lavoura,
superando todas as dificuldades para o mesmo passo e cuja recompensa foi a
colheita de vitórias esplêndidas, sobretudo as relativas ao respeito, ao
crédito e admiração dos leitores de sempre. Etapas em que impulsionou suas
atividades na Praça Ministro Seabra (atual Praça da Liberdade), depois nas ruas
Governador Portela e Bernardino Melo, e finalmente, onde se encontra desde 1970
em redação e oficina próprias, na Rua Luiza Lambert, nº 91. Desse longo tempo,
além dos colaboradores iniciais que acompanharam Silvino de Azeredo ao longo de
duas décadas, outros colaboradores foram se agregando à redação do Correio da Lavoura e que se firmaram a
partir dos anos 40 até nossos dias, considerando-se, lógico, muitos que já
partiram. Desses tantos podemos citar: Joaquim Elydio da Silveira, Leopoldo
Machado, Francisco Manoel Brandão, Newton Gonçalves de Barros, Althair Pimenta
de Moraes, Cial Brito, Ruy Afrânio Peixoto, Maurício Caminha de Lacerda, D.
Adriano Mandarino Hypólito (bispo diocesano), Márcio Moreira Alves, Gil
(caricaturista), Martiniano (idem), Márcio Caulino, Anthenor Magalhães Amaral,
Arthur Cantalice, Sérgio Fonseca, Éder Rodrigues, Celso Martins, Ivan Lemos
Souto Maior, Ney Crespo (ambos desenhistas e chargistas), dois poetas, Eucanaã
Ferraz e Victor Loureiro, e muitos e muitos outros jovens colaboradores que, se
citados todos, tornaria por demais longa essa lista de tantos amigos sinceros e
dedicados.
Nas oficinas e
na redação, desde Silvino de Azeredo e Silvino de Azeredo Filho, depois Avelino
e Luiz Martins de Azeredo (filhos do fundador) e agora já com os netos –
Robinson e Gerson – e bisneto – Vinícius Menezes de Azeredo –, passou pela
confecção gráfica do jornal um grande número de colaboradores também fiéis aos
ideais do seu fundador: Antônio da Silva Ramos, Dirceu Guilherme Dias, Sila
Filizola, Benício Gonçalves da Silva, Romana Laura Tôrres. Todos já falecidos
mas que deixaram para todos nós que aqui ainda estamos um grande exemplo de
competência e dedicação, dando sempre o máximo de seus esforços para que os
exemplares do jornal, em tempo e à hora, chegassem às bancas e às mãos dos
leitores, bem impressos, espelhando, através do comentário e da notícia, a
própria vida do Município.
A Maxambomba
de 1917, como que cumprindo o seu destino que já se delineava no princípio do
século passado, não parou no tempo e no espaço, foi se transformando, passou a
chamar-se Nova Iguaçu. E de 1925 até 1955, mais precisamente, quando viveu a
fase áurea da citricultura, período de 30 anos em que se orgulhava de produzir
em seus inúmeros sítios a melhor laranja do Brasil, Nova Iguaçu tomou corpo
como cidade, delineou o seu perímetro urbano, desenvolveu-se predialmente,
começou a calçar suas ruas antes de chão. E a partir da inauguração da Rodovia
Presidente Dutra, em 1951, principal eixo rodoviário do País que rasgava todo o
Município desde a ex-Capital Federal até o trevo de Viúva da Graça, a partir
daí, então, foi realmente explosivo o desenvolvimento de Nova Iguaçu, sobretudo
no setor comercial, quando passou a registrar índices de crescimento realmente
notáveis.
A todos esses
ciclos de desenvolvimento o CL esteve atento, o que nos obriga a assinalar a
sua grande presença na promoção e divulgação da atividade agrícola, como
porta-voz da Associação dos Fruticultores de Nova Iguaçu, entidade que foi o
embrião da futura Associação Rural; da grande campanha, no campo da saúde, para
que nós tivéssemos aqui um hospital público, o que se corporificou com a inauguração
do Hospital de Iguaçu em 1935; com a intensa divulgação das atividades
sócio-esportivas e culturais, também como porta-voz único do tradicional
Esporte Clube Iguaçu, fundado em 1912. E finalmente, no campo cultural, podemos
mesmo dizer que a já extinta Arcádia Iguaçuana de Letras nasceu dentro do Correio da Lavoura. A entidade fundada
na década de 50 e que congregava os homens de cultura e inteligência de Nova
Iguaçu, infelizmente não teve vida longa. Mas enquanto viveu pôde animar de
certa forma a vida cultural do Município, o que também pode-se dizer do TEIF
(Teatro Experimental Itália Fausta) que por um período de aproximadamente dez
anos – do início dos anos 50 até igual período dos anos 60 – foi o centro de
toda a nossa juventude interessada pela arte dramática.
É bom ainda
que se diga que o CL, como órgão oficial da Prefeitura durante mais de 30 anos,
nas décadas de 40, 50 e 60 foi o veículo da Municipalidade, o que o fez ser o
único arquivo disponível, daquele período, dos atos oficiais (leis, decretos,
avisos, portarias, balanços) da Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu. Da mesma
forma foi o CL, durante igual período, o veículo do Poder Judiciário, na
veiculação de todos os editais expedidos para publicação pelos Cartórios da
Comarca de Nova Iguaçu.
De fato, para
concluirmos, o Correio da Lavoura,
durante este largo período de trabalho, não deixou um só momento de acompanhar
a trajetória de Nova Iguaçu, de modo que, com tenacidade e persistência,
representa a própria história, rica de acontecimentos em todos os setores de
sua atividade, de nosso Município, da gente laboriosa que o fez merecedor do
lugar de relevo que ocupa na Baixada Fluminense.
Silvino de
Azeredo, na grandiosidade do seu amor à terra iguaçuana, deu o exemplo de como
a Pequena Imprensa deve servir à coletividade com trabalho sério e honesto,
digno de todo o respeito pela lisura de sua conduta, considerando o presente e
o futuro.