A SOMA DE TODOS OS MEDOS - Correio da Lavoura

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5 de nov. de 2025

A SOMA DE TODOS OS MEDOS

*Jorge Gama


A operação policial ocorrida no último dia 28 de outubro, na cidade do Rio de Janeiro, foi uma tragédia anunciada, depois de diversas vezes adiada. Como era inevitável, finalmente aconteceu.

Os estados, diante da nossa Constituição, são responsáveis pela Segurança Pública. Nosso modelo republicano é centralizador, e uma das poucas atribuições de competência dos estados é justamente a Segurança Pública – uma vez que cabe à Polícia Federal atuar em crimes de natureza federal, ainda que praticados no território estadual. A segurança ostensiva, portanto, é dever dos estados.

Esses espaços degradados, de difícil acesso e precarizados sob vários aspectos, passam a ser dominados pelo crime organizado, que opera com regras próprias, fora da lei e da ordem pública. Nesse cenário, o tráfico de drogas, o comércio ilegal e o furto de energia tornaram-se propriedades de facções criminosas em permanente disputa.

A população, em sua imensa maioria, vive acuada, ameaçada e em permanente estado de terror. Essa submissão se traduz em um modo de vida miserável, sem a menor esperança para as novas gerações que estão acuadas pelas quadrilhas e obrigadas a seguir as leis do crime.

O que antes se chamava de “Estado paralelo” evoluiu para uma nova configuração: o narcoestado. Esse modelo tem como fundamento o confronto permanente – e quase obrigatório – com as forças policiais, que se tornam alvos diários de emboscadas e assassinatos.

Ao lado dessa ameaça constante às forças de segurança, existem ainda regramentos impeditivos que restringem a ação policial nesses territórios dominados pelo crime. Em nome de uma pseudo-precaução contra eventuais excessos, oferecem-se aos criminosos, garantias adicionais e doses generosas de impunidade.

Todo esse contexto produziu na população um estado de perplexidade e gerou, na cidade do Rio de Janeiro, a soma de todos os medos. O represamento de tensões, aflições e receios, aliado à falta de cooperação das autoridades federais, tornou obrigatória a ação das forças de segurança do Estado.

Sem causar dano colateral à população, foi executada uma operação planejada e coordenada, que resultou no desmantelamento de um gigantesco arsenal, na prisão de centenas e na morte daqueles que, armados, optaram pelo confronto direto com as forças da lei.

A sociedade está cansada da narrativa segundo a qual “bandido é vítima da sociedade”. Como afirmou a mãe de um jovem que se tornou criminoso – mesmo dilacerada pela dor e no auge do desespero –, ela gritava: “Você não é vítima da sociedade. É vítima das suas escolhas”.

Que as autoridades federais afastem-se da hipocrisia e ouçam o grito desesperado dessa mãe brasileira.

*Jorge Gama é advogado e ex-deputado federal.