Especialista alerta para sintomas que vão de dores a alterações emocionais;
pesquisas recentes reforçam importância de acompanhamento profissional
Você sabe o que é overtraining? O termo descreve a condição em que o corpo ultrapassa o limite saudável de esforço físico, sem tempo suficiente para recuperação. Em plena temporada de preparação do corpo para o verão, que começa em três meses, é importante ficar atento e não cair na tentação de atingir o shape desejado a qualquer custo. A busca incessante por desempenho, associada à falta de orientação, pode ter consequências drásticas: fadiga crônica, dores incomuns, alterações de humor, que podem levar a quadros psíquicos mais graves, e até queda de imunidade.
“Dores agudas fora do padrão, cansaço persistente, suor excessivo, sensação de febre e mudanças de apetite ou de comportamento, como ansiedade e irritabilidade, são sinais de alerta de que o organismo não está conseguindo se recuperar”, explica Rafael Moreira, professor do curso de Educação Física da Universidade Iguaçu (Unig), que tem mestrado em engenharia biomédica.
Estudos recentes reforçam que o problema não atinge apenas atletas de elite. Crianças, adolescentes e adultos que treinam sem supervisão adequada também correm sério risco. Em jovens, por exemplo, a Academia Americana de Pediatria já alerta para o aumento de lesões por esforço repetitivo e de casos de esgotamento físico e emocional causado pelo excesso de treinos.
Além do impacto imediato no bem-estar, o overtraining pode causar ainda desequilíbrios hormonais, maior suscetibilidade a infecções e até burnout esportivo, segundo revisões publicadas em periódicos especializados de medicina esportiva.
Outro ponto de atenção, segundo Rafael Moreira, é o hábito de seguir treinos sugeridos por pessoas sem formação técnica, como influenciadores digitais ou fisiculturistas, que compartilham métodos empíricos sem considerar a individualidade de cada praticante. Isso leva a exercícios não adaptados à realidade de cada corpo, aumentando as chances de lesões, distúrbios metabólicos e até rabdomiólise — uma ruptura do tecido muscular que pode provocar lesões nos rins.
O problema se agrava quando os praticantes recorrem a vídeos ou sites sem credibilidade ou até inventam movimentos, sem respeitar princípios básicos de biomecânica e fisiologia. “Em vez de gerar benefícios, essa prática pode trazer malefícios e afastar a pessoa dos ganhos reais que a atividade física deveria proporcionar”, reforça o especialista da Unig.
PARA EVITAR O PROBLEMA, OS ESPECIALISTAS RECOMENDAM
- Avaliação clínica antes de iniciar qualquer programa de exercícios;
- Treinos planejados com períodos de descanso;
- Alimentação equilibrada;
- Atenção a sinais de alerta do corpo; e
- Acompanhamento por especialista ou, em alguns casos, equipe multidisciplinar (médico, educador físico, fisioterapeuta e nutricionista).
“O corpo dá sinais. Há casos em que a pessoa chega a entrar em estado febril e de fadiga, além de sentir dores articulares exacerbadas e ter fome e até sudorese fora do normal. São vários pontos que precisam ser observados. E, nesse caso, é preciso parar”, alerta Rafael Moreira. “O exercício deve ser um aliado da saúde. Sem orientação, pode se transformar em um inimigo silencioso”.