COMO ANDAM AS CIDADES? - Correio da Lavoura

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13 de jun. de 2022

COMO ANDAM AS CIDADES?

Vicente Loureiro


De fato, elas não andam. Nossas demandas por deslocamentos e mercadorias são o que nos fazem andar sobre elas das variadas formas e todos os dias. Mas, segundo o Índice Folha de Mobilidade Urbana aplicado as capitais brasileiras, elas estão longe do ideal de mobilidade sustentável. Aparecem “mal das pernas”, se me entendem e permitem.

A Folha de São Paulo em parceria com o site 99, por conta da dificuldade de obter dados confiáveis nas prefeituras, adaptou o IMUS (Índice de Mobilidade Urbana Sustentável), desenvolvido pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, para avaliação do nível de mobilidade das 27 capitais brasileiras. Para tanto, reduziu de 87 para 13 os indicadores visando determinar o quanto cada uma atende também aos princípios de sustentabilidade social, econômica e ambiental.

Fortaleza

Mesmo reduzindo os domínios tratados pelo índice original, os resultados obtidos são bastante aceitáveis e demonstram com objetividade como as capitais brasileiras lidam com a mobilidade urbana, levando em consideração os aspectos ambientais, a infraestrutura e sistemas de transportes disponíveis, incluídos os de mobilidade ativa, e os congestionamentos e tarifas praticadas, etc., procurando Identificar como elas estão agindo para melhorar os transportes públicos, reduzir as emissões e a velocidade praticada nas vias urbanas e restringir a circulação de veículos particulares, entre outras medidas de melhoria das condições de mobilidade de cada uma.

Fortaleza, Aracaju, São Paulo e Curitiba são, segundo tal levantamento, apontadas como as de melhor desempenho, ainda que com resultados bem abaixo dos padrões de referência desejáveis para cada critério analisado. Na outra ponta, Palmas, São Luís e Porto Velho figuram como as detentoras das maiores dificuldades para o desenvolvimento de uma mobilidade urbana sustentável e abrangente.

Aracaju

Fizeram parte desse Índice Folha, indicadores como número de mortes causadas por acidentes de trânsito em vias urbanas;  medidas concretas tomadas para redução do tráfego motorizado, como o rodízio de placas ou a delimitação de áreas com restrições a circulação de veículos;  o tamanho e recorrência dos congestionamentos; a densidade e a conectividade da rede viária; as emissões de CO2 e o percentual de veículos da frota municipal de transporte público que utiliza combustíveis menos poluentes; a taxa de motorização medida pelo número de automóveis por 100 mil habitantes; os modos de transporte disponíveis e a quantidade de passageiros por eles transportados; o comportamento das tarifas e o percentual de vias destinadas aos pedestres e ciclistas, entre outros.

Conclui-se, afinal, ao examinar os resultados que as cidades ficariam melhores quanto menos dependentes dos carros e dos combustíveis fósseis estiverem; quanto mais denso e conectado por nós for seu sistema viário,  destinando mais espaços aos pedestres e ciclistas; quanto menor forem as ocorrências de acidentes de trânsito e a quantidade de congestionamentos; quanto maior for a diversidade dos modos de transporte existentes e a quantidade de passageiros por eles transportadas; e quanto mais justas e sustentáveis forem as tarifas praticadas. Parece fácil, mas não é. Há muito a ser feito e de modo concatenado para que o circular pelas cidades possa ser ao mesmo tempo seguro, saudável, acessível e inclusivo. Medir e comparar como elas lidam com a mobilidade urbana não deixa de ser um passo importante e revelador.

*Vicente Loureiro é arquiteto, urbanista e escritor.