CORTE DE VERBA UNIVERSITÁRIA COMPROMETE O FUTURO DO ENSINO PÚBLICO SUPERIOR NO BRASIL - Correio da Lavoura

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26 de jun. de 2019

CORTE DE VERBA UNIVERSITÁRIA COMPROMETE O FUTURO DO ENSINO PÚBLICO SUPERIOR NO BRASIL

Por Kátia Cavalcante

Cortes e impossibilidades para o futuro dos estudantes nas universidades federais. É um momento dos reitores, diretores, coordenadores pararem para pensar e refletir como fazer para que os 30% de corte não venham a refletir no ensino universitário e também não venha abalar toda a estrutura, desde limpeza até o corpo docente. No dia 30 de abril, o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, declarou para todo o país o corte de 30% nas verbas de todas as universidades federais. Devido a essa declaração, no dia 15 de maio os estudantes fizeram uma passeata no centro do Rio e levantaram as suas bandeiras para reivindicar e gritar para o governo que cada cidadão brasileiro, sem distinção de raça ou posição social, tem o direito de estudar e ter o seu espaço em uma universidade federal.
O mestre, doutor e professor dos cursos de graduação e pós-graduação em História e pesquisador de produtividade do CNPq, Álvaro Pereira Nascimento, manifestou em longa entrevista ao CL sua preocupação quanto ao futuro do ensino público superior no Brasil
É o caso da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro-Campus Nova Iguaçu (UFRRJ). O corte de verba mexeu com toda a estrutura das universidades, principalmente a Rural de Nova Iguaçu. Segundo o Ministro da Educação, o orçamento foi bloqueado por fazerem “balbúrdia” dentro da universidade, além do baixo desempenho acadêmico. Para entender melhor o que está acontecendo a reportagem do CL esteve no Campus da Rural em Nova Iguaçu e entrevistou Álvaro Pereira do Nascimento (mestre, doutor e professor dos cursos de graduação e pós-graduação em História e pesquisador de produtividade do CNPq).
A pergunta é: O que você pode falar sobre a agressão do governo ao ensino superior público?
“Ela vem pelo menos em duas frentes: uma é a parte financeira que é observável, quantificável; a outra é a parte da desmoralização com a própria deslegitimação do ensino superior no Brasil como algo positivo para a sociedade como um todo, e essa eu acho que é uma das piores coisas. Os dois ataques são pesados porque no financeiro ele ataca diretamente as pessoas que estão procurando outro mundo e tem sonhos a realizar, e esses sonhos passam pela universidade. O outro eu entendo que é muito ruim porque a universidade como um todo parece que não tem sentido, é um peso morto, algo desnecessário que só gasta dinheiro e que não deveria ser a razão de ser posto qualquer níquel do governo federal no ensino superior o que é uma aberração”, disse Álvaro. 
Segundo Álvaro, não há necessidade de cortes do governo federal nas universidades para financiar a educação básica brasileira. “Porém o que era responsável, e é até hoje, é a base. Pela educação básica o peso maior recai sobre os municípios e estados. O ensino fundamental, que vai do primeiro ao nono ano, é responsabilidade dos municípios, e o segundo grau, que é o ensino médio, é dos governos estaduais. O governo federal vem incentivando e financiando também o ensino médio. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o governo vem tentando criar um salário mínimo nacional para os docentes da educação municipal, nenhum professor pode ganhar menos que um salário mínimo. O governo federal complementa esse salário nos municípios que precisam muito desse valor. Eu quero chamar a atenção para um fato: o governo federal tem a prioridade do ensino superior e ele ampliou o financiamento para a educação básica. Há muitas décadas, sendo o ensino fundamental com os municípios que não tem capacidade de pagar o salário mínimo integral ao seu corpo docente. Eu quero chamar a atenção para o fato que o governo federal já financia a educação básica brasileira sem ser a prioridade dele, o que na verdade já está na Constituição, a obrigatoriedade dos municípios e estados. O que está se falando é cortar o dinheiro da universidade para financiar a educação básica, mas o governo federal já faz isso há muito tempo e a segunda coisa é que a universidade aí tem um mea culpa: durante muito tempo esteve afastada das classes mais pobres, média e baixa de pessoas que terminavam o segundo grau e não conseguia perceber a importância da universidade para o Brasil”, falou Álvaro Pereira. 
Segundo ele, a UFRRJ na Baixada é um direito de todos os estudantes. “É um direito das pessoas terem acesso ao ensino superior”, comentou Álvaro. 
Todos da universidade, desde o corpo docente até o corpo discente se sentiram agredidos pelas palavras do presidente da República e o ministro da Educação. “O que nos deixa estupefatos extremamente tristes, do atual presidente e do ministro da Educação, mas também de muitas pessoas, é falar que nós estamos andando nus em nosso campus, que fazemos balbúrdia e que todos os nossos alunos são drogados e só vivem em festa e não trabalham e que isso aqui é algo que não tem nenhum tipo de seriedade. Isso é uma falta de respeito comigo e quanto aos docentes é uma falta de respeito com os meus alunos, funcionários e familiares. Isso é um absurdo!”, ressaltou o professor Álvaro. 
O corte do financiamento irá atingir a toda universidade. “Você corta 30%, você corta sonhos, esperança, cursos que são concorridos como veterinária, medicina, direito, entre outros. Vai cortar bolsas para pesquisas, financiamento. Você corta negros e pobres. O que é mais grave é a bolsa permanência de R$ 400,00 para pagar a passagem de alunos carentes durante todo o curso. Temos o serviço social que acompanha tudo isso”, concluiu Álvaro Pereira do Nascimento, professor da UFRRJ-Nova Iguaçu.

Fotos de Kátia Cavalcante