*Vicente Loureiro
Parece ter sido essa a resposta dada pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro à presença de bicicletas elétricas e motos nas ciclovias da cidade, através do projeto de lei recém aprovado e aguardando sanção ou veto do prefeito. Poderia se dizer também que atiraram no que viram e acertaram no que não viram, agiram com aparente voluntarismo e sequer consideraram recente resolução do Contran sobre o assunto, classificando tais veÃculos segundo a potência e por tabela velocidade e impacto.
É desejável que as cidades possam ser cada vez mais responsivas, ou seja, terem capacidade de responder de forma ágil, assertiva e segura à s demandas da sociedade. Há inclusive movimentos mundo afora de valorização da responsividade das polÃticas urbanas, numa perspectiva de redução do tempo de espera por soluções, muitas vezes extenso para o exercÃcio do direito à cidade ou da prática concreta dos Direitos Urbanos, aqueles que preconizam e buscam assegurar uma vida digna e adequada, incluindo todos os cidadãos.
As cidades em todo mundo estão à s voltas com o tema. A chegada dos veÃculos da chamada micromobilidade: os skates, patinetes e afins, o aumento vertiginoso da oferta de bicicletas elétricas e, no caso brasileiro, a venda de mais motos do que automóveis sinalizam a urgência de se investir na reestruturação da malha viária delas. Entendendo a relevância que tais formas de locomoção tomaram junto as práticas, também crescentes, da chamada mobilidade ativa promovidas pelos ciclistas convencionais e pedestres.
Londres, motivada por essa realidade emergente, está transformando ruas de sua malha viário em uma via de mais de 20km de extensão, destinada exclusivamente a mobilidade ativa e a micromobilidade. Mais ou menos paralela ao rio Tâmisa e atravessando linhas do metrô, ela pretende diminuir as demandas por transporte motorizado, o público, mas sobretudo o individual. Dando demonstração clara de que podem ser substituÃdos. E, no caso dos automóveis, podem ficar obsoletos e indesejáveis até em certas áreas das cidades.
Os céticos dirão: como fiscalizar e fazer com que a população se adapte a esses novos modos de se usar as vias urbanas? Eles têm razão em parte, não será tarefa simples, mas temos por aqui mesmo exemplos exitosos e animadores de que é possÃvel com conscientização e punição ao recalcitrantes mudar o comportamento das pessoas. O uso do cinto de segurança e a Lei Seca são provas de que se pode agir de modo mais responsável e seguro nos deslocamentos urbanos. O novo desafio é mudar de modal, ir tratando de desapegar do carro, adaptando-se a uma vida mais saudável e sustentável no ir e vir do dia a dia.
Pedestres, ciclistas, usuários de veÃculos da micromobilidade e de transporte público precisam ver seus espaços de circulação reconhecidos e respeitados. Em alguns casos de forma exclusiva em outros de modo compartilhado. A velocidade média nos deslocamentos urbanos acompanhará tal tendência e não será mais decisão individual. O espaço do uso coletivo é que dará os limites. Restringindo, inclusive quando necessário, a presença do automóvel. Circular a 20 ou 30 km por hora no máximo nas cidades será a prática comum em futuro próximo. Não haverá espaço fÃsico disponÃvel para mais do que isso. A mudança de hábitos será impositiva.
*Vicente Loureiro é arquiteto, urbanista e escritor.