CAMINHOS DA HISTÓRIA - Correio da Lavoura

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29 de abr. de 2021

CAMINHOS DA HISTÓRIA

Nelson Freitas


Há exatos vinte e um anos atrás, um encontro da Comunidade Cultural da Baixada, na Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, FEBF/UERJ, em Duque de Caxias, concebeu que a região deveria ter um dia para relembrar sua história, o seu processo de ocupação e desenvolvimento, suas riquezas, cultura, problemas sociais e, ao mesmo tempo, a data servisse para defender o seu projeto próprio de desenvolvimento e de emancipação política. Após dois anos, foi criada a Lei n° 3.822 que tornou 30 de abril o “Dia da Baixada Fluminense”.

A origem tem vínculo com o dia da inauguração da primeira Estrada de Ferro do Brasil, construída pelo Barão de Mauá, em 1854, ligando o Porto de Mauá (Estação Guia de Pacobaíba) à região de Fragoso, em Magé. Por isso, neste dia comemora-se também o Dia dos Ferroviários. É importante ressaltar que todos os demais trechos de ferrovia criados após a primeira estação delinearam uma significativa alteração na composição geográfica e histórica da região, levando à decadência da navegação fluvial, dos serviços dos portos e, como consequência, a desativação do caminho dos tropeiros. As novas estações estimularam o povoamento do seu entorno, o que originou oito das 13 cidades que hoje compõem a Baixada Fluminense.

Conhecer a memória desse lugar é uma das formas de reconhecer a força de um povo que expressa diversidade na criação artística e em seus modos de vida por meio da cultura da vizinhança, tomado pelo desejo crescer e se desenvolver com dignidade. Os diferentes ciclos econômicos da cana, ouro, café e da laranja, que gerou para Nova Iguaçu o apelido de “Cidade Perfume”, em decorrência do aroma das flores dos laranjais, quando o município foi o maior exportador de laranja da América Latina, no início do século XX, representam bem a importância histórica da região no processo de desenvolvimento do estado fluminense.

O mais recente ciclo econômico, chamado de “Fábrica de Cidades”, começou em 1943, com a emancipação de Duque de Caxias, seguido por mais duas emancipações em 1947 (São João de Meriti e Nilópolis). Posteriormente foram mais quatro (Belford Roxo, Queimados, Japeri e Mesquita). Com a enorme afluência de migrantes de diferentes regiões do país e de imigrantes vindos de outros países, atraídos por valores baixos de loteamentos de terras, a característica agrícola foi dando lugar à forma urbana. O aspecto rural, apesar de ainda sobreviver hoje no entorno da Reserva Biológica de Tinguá, é residual para a economia.

E é nesse contexto econômico, social e cultural diferente de tudo o que era antes, que a região cresceu desordenadamente para ocupar seu lugar no cenário político, social, cultural e econômico do Rio de Janeiro. Apesar da alta complexidade social, a região apresenta um enorme mercado de bens e serviços; é o segundo maior colégio eleitoral do Estado e tem força suficiente para erguer diferentes tipos de projetos próprios de desenvolvimento e de emancipação política.

Viva a Baixada Fluminense!

*Nelson Freitas é diretor de Cultura da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.