Thiago Rachid
Alguns dias antes do Carnaval deste ano eu indaguei no Facebook se havia sentido cancelar a maior festa popular do país e manter o feriado e o ponto facultativo.
E não, não havia nenhum sentido. Governadores e prefeitos que mantiveram o feriado e o ponto facultativo são os responsáveis pelo recorde diário de mortes que temos visto nas últimas semanas.
Ao manter essas “folgas” e o final de semana prolongado, governadores e prefeitos convidaram o povo para viajar, aglomerar e fazer celebrações, ainda que não tenham ocorrido de forma extensiva como nos anos normais.
Houve alguns municípios em que não foi mantido o final de semana prolongado. Mas de pouco adianta que alguns façam o certo e outros não. As ações precisam ter coerência e coordenação.
E a falta de coerência e coordenação foi criada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal quando, em decisão irresponsável e politiqueira tiraram do Governo Federal o condão de organizar um plano nacional de enfrentamento à pandemia, entregando a todos os entes federados as iniciativas para planejar o enfrentamento do vírus. Pronto, o caos estava decretado.
Ao invés de termos uma diretriz nacional que mantivesse a coerência nas ações dos muitos estados e municípios, passamos a ter 5.597 planejadores diferentes (5.570 municípios, 26 estados e o DF).
O que aconteceu no carnaval desse ano foi apenas um capítulo da tragédia de erros causada pela criminosa decisão dos onze urubus que converteram nossa suprema corte e uma nada santa inquisição. Diabólica, inclusive.
O objetivo dos adversários do presidente está sendo alcançado: o caos geral para jogar na conta de Bolsonaro e inviabilizar sua reeleição.
E todos os setores da oposição já começam a se aproveitar disso. A cara de pau é tamanha que até a situação econômica grave que ora vivemos com aumento de preços, do desemprego e queda no crescimento em 2020 estão colocando na conta daquele que bradou contra as loucuras que estavam sendo feitas e que resultariam nesse quadro que agora vivenciamos.
Não há como enfrentar essa pandemia de forma eficiente sem uma ação coordenada e considerando o país como um todo. O Brasil é um Estado federado. Qualquer indivíduo circula do Amapá ao Rio Grande do Sul sem passar por barreiras sanitárias. As pessoas circulam entre municípios e estados livremente e não adianta termos um desencontro entre as medidas.
A decisão do Supremo Tribunal Federal foi justificada para a sociedade como uma ilação dos ministros de que o Presidente não seria capaz de coordenar o enfrentamento, como se a decisão sobre isso não viesse das urnas.
Ainda que a presidência fosse ocupada por uma pessoa perturbada como Dilma Rousseff, o país não poderia abrir mão de agir de forma unificada e coordenada pelo Governo Federal. Ainda que tivéssemos um plano nacional ruim, ele seria melhor que plano nenhum. Privar o país dessa ferramenta foi o golpe fatal que matou desnecessariamente milhares de brasileiros e provocou prejuízos à economia que demoraremos muitos anos para recuperar.
O resultado está aí. Muitas mortes desnecessárias, aumento da miséria e um falso Judas para malhar. Os donos do poder não têm limites. E aqueles que protestam, ainda correm o risco de serem presos por um inquérito absolutista e inconstitucional presidido por um ministro do órgão que é (ou deveria ser) o guardião da Constituição.
*Thiago Rachid é advogado.