LEIA A BULA - Correio da Lavoura

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4 de out. de 2018

LEIA A BULA


*Jorge Gama

A base da democracia representativa é o voto popular e direto e, com ele, podemos mudar o cenário político que nos sufoca e nos explora, retirar o ineficiente ou expulsar os desonestos da vida pública.

Individualmente, quase sempre duvidamos do poder do nosso voto, tendemos a achar que ele, por si só, não terá a força suficiente para mudar um cenário político adverso.
 
As campanhas eleitorais, em muitos casos, contribuem para essa sensação de impotência do eleitor diante do processo eleitoral, em outros casos pela falta de clareza dos partidos em apresentar ou determinar que seus candidatos apresentem o programa de seu respectivo partido.
 
As coligações partidárias que deveriam, do ponto de vista doutrinário, expressar uma aliança entre os partidos e seus programas, em defesa de teses de interesse político ou administrativo, transformam-se em conchavos individuais para atender aos objetivos meramente eleitorais.

Todas essas anomalias concorrem para aumentar o descrédito do cidadão sobre o peso de seu voto para a conquista das mudanças.
 
A reforma política, que poderia aperfeiçoar a nossa democracia e melhorar a representação, segue sendo postergada.

O nosso voto, apesar de todas essas barreiras, fez avançar nossas conquistas democráticas.

Agora, estamos diante do debate sobre a ficha limpa, onde os candidatos e os partidos terão que selecionar melhor seus quadros eleitorais.

A bem da verdade a questão da ética não deve ser cobrada apenas dos políticos.

A ética é um dever de todos os que vivem em sociedade, principalmente os que desempenham funções públicas.

Políticos, jornalistas, magistrados, policiais, representantes do Ministério Público, presidentes de associações profissionais, líderes religiosos, todos estão sujeitos à regra de convivência e de comportamentos éticos.
 
Ainda não se cogitava da “lei da ficha limpa” para os políticos e numa palestra que fiz sobre o Dia da Baixada, comemorado no dia 30 de abril, no espaço central do Shopping Grande Rio, fui questionado em quem se deveria votar em São João de Meriti. A pergunta me
obrigaria a criticar o prefeito, muito desgastado, mas que era do meu partido, o PMDB.
 
Diante do silêncio e da expectativa do público pela minha resposta, eu, que não sou amante do improviso, e nem de respostas evasivas, mesmo sabendo que se tratava de pura provocação, pude responder o seguinte: “Leia a bula”.

“O senhor quando leva seu filho ao pediatra e ele receita um remédio, qual é sua primeira providência, antes de dar o remédio à criança?”, perguntei e logo tratei de responder: “O senhor, é claro, lê a bula”.
 
Todo político vem acompanhado da sua própria bula e nela encontraremos as indicações para o seu uso, mas principalmente as contra-indicações, as reações adversas tais como: taquicardia, sonolência, reações alérgicas, cansaço, os efeitos colaterais indesejáveis.

Há casos em que o medicamento já não faz nenhum efeito, há remédios vencidos e sua
aplicação deve ser suspensa ou torna-se perigosa.

Cada candidato vem acompanhado de sua própria bula, evite os efeitos colaterais.

Pude observar, pela reação da plateia, que resposta foi didática.

Portanto, com ou sem “lei da ficha limpa”, conheça melhor seu candidato antes de votar: “Leia a bula”.

P.S.: “Numa democracia o direito de ser ouvido não implica no direito adicional de ser levado a sério”.

*Jorge Gama é advogado. E-mail para contato jorgegama1@bol.com.br.