*Marcos Epínola
A criminalidade vem avançando a passos largos, com tentáculos em todos os setores da sociedade e ultrapassando fronteiras. O retardo de medidas por parte das autoridades em criar uma política de segurança pública consistente e que se torne uma política de Estado e nacional e não de governo, faz com que o poder constituído não acompanhe o crescimento das facções cada vez mais organizadas.
Recentemente a Secretaria de Segurança Pública anunciou que negocia com o governo dos Estados Unidos o reconhecimento do Comando Vermelho como uma organização criminosa internacional. A preocupação está, entre outras coisas, nas rotas de cocaína que a facção vem tentando dominar no norte do país. Além disso, o foco também é nas armas que entram no Rio, pois a maioria é de origem americana.
São décadas que o país, de dimensões continentais, sofre com as ações dos criminosos e contrabandos de toda espécie, especialmente armas e drogas, fazendo que a cidade carioca tenha um arsenal incalculável nas mãos dos bandidos. Armamento de guerra, de alto poder destrutivo e que transformou os membros das facções em verdadeiros guerrilheiros em um poder paralelo que, cada vez mais, invade territórios diante da inércia do Estado.
E como essas armas chegam aqui? Por vários caminhos e com estratégias cada vez mais inovadoras para driblar fiscais, sejam nos aeroportos, portos ou estradas. Armas que vêm escondidas em veículos e até brinquedos. Há até uma espécie de consórcio em que diferentes facções compartilham parte da logística. Cargas como café, madeira e até sabão em pó também são utilizadas pelos traficantes, assim como empresas de fachada e “laranjas” para lavar dinheiro, transportando as drogas e armas vindos de diferentes estados e de fora do país.
Investigações apontaram que, atualmente, são três as rotas principais usadas por criminosos: no Sul do país, com origem no Paraguai; outra na fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, passando pelo Rio Solimões, no Amazonas; e a terceira que sai do Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia, passando por São Paulo até chegar no Rio. Caminhos de armas ilegais e das drogas trazidas pelas facções que, em muitos casos, agem em parceria, movimentando bilhões de reais por ano.
Um caminho lucrativo, sangrento e cujo destino são as comunidades da cidade, comandadas pelas facções que fazem os moradores locais de reféns. Um caminho que leva o terror a toda uma sociedade que está perdendo o direito de ir e vir.
*Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública.