POR ALMEIDA DOS SANTOS
Robinson e sua grande companheira ao longo de 52 anos a frente do CL: uma máquina Remington (1952), na antiga redação da Rua Luiza Lambert, 91 |
Rua Luiza Lambert, nº 91, centro de Nova Iguaçu. Este é o endereço que durante 48 anos, mais precisamente de 1970 a 2018, recebeu visitas ilustres, nomes da sociedade iguaçuana, entre eles artistas, políticos, comerciantes, jornalistas, professores e até alunos que gostavam de uma boa conversa, de aprender, discutir a cidade e, principalmente, os rumos da política no país. A maioria era de colaboradores do Correio da Lavoura. O local chegou a ser visto, nos anos da tensão política no Brasil, como um ambiente de foco de pensadores, o que não era bem visto, considerando a expressiva consciência política dos que passavam por lá, mas sobretudo, por quem era o principal personagem do ambiente, o editor-chefe do Correio da Lavoura, Robinson Belém de Azeredo, um brasileiro consciente e, mais ainda, um legítimo formador de consciência e de despertar de visões. E não foi à toa que até mesmo um militar à paisana, digamos, “resolveu” fazer uma dessas visitas não desejadas e sondar o ambiente. Falo da antiga sede, redação e oficina onde funcionava o Correio da Lavoura, numa tradicional rua perpendicular à Otávio Tarquínio, bem no centro de Nova Iguaçu, endereço que por 48 anos, após árdua luta do Robinson Belém de Azeredo para erguer o imóvel, passou a ser uma referência na cidade.
A antiga sede do Correio da Lavoura era nada mais e nada menos que frequentada pelos colaboradores do jornal e amigos. Entre eles podemos citar Sérgio Fonseca, Ney Crespo, Arthur Cantalice, Ivan Lemos Souto Maior, Írio Weschenfelder, Victor Loureiro, Jorge Gama, entre outros. Eu mesmo quando fui levado pelos braços do Sérgio Fonseca para ser um membro dessa família, ainda jovem com aproximadamente 25 anos, fazia da sede uma espécie de segundo lar. E cheguei a ser vizinho de parede, acreditem.
Mas o que mais atraía as visitas, no caso especial de pesquisadores e estudantes, era a memória e o conhecimento do Robinson junto ao arquivo do jornal. Algo surpreendente. Muitos que queriam entender a história da cidade, momentos político-administrativos e fatos marcantes da cidade e sua história passavam por lá, seja para uma conversa, sempre com orientação dele em casos de pesquisas, ou mesmo uma consulta ao precioso arquivo que o jornal construiu ao longo de 103 anos.
Robinson Belém de Azeredo era muito mais que um jornalista da cidade. Ele era uma fonte de consulta. E por ser fonte de consulta, era também um irradiador do conhecimento, o que o fazia não tolerar assuntos rasos ou mesquinhos.
O que digo aqui é que a antiga sede do Correio da Lavoura, mais do que ser um espaço de produção de matérias e local de consulta, era antes de tudo um templo erguido por quem preza o conhecimento e não fugiu do seu papel de mestre, como sempre o reverenciei, apesar do próprio Robinson autodenominar-se um simples cidadão. A obra física deixada naquela figura do imóvel construído com muito esforço, tornou-se muito mais que um símbolo da conquista dele. Virou, por 48 anos, um local de referência e conhecimento que sempre contava com sua a presença.